sábado, 18 de abril de 2009

O calcanhar de Aquiles


O Calcanhar de Aquiles

Ao cair da noite, após um dia de rudes combates, Agamenon, o rei dos reis, assiste ao regresso de suas tropas. Os homens ainda capazes amparam os camaradas feridos. Outros trazem de volta corpos de soldados mortos em Tróia. Fadiga, amargura, tristeza é o que se lê em todos os rostos. O cerco da cidade já dura anos, e os gregos não fazem nenhum progresso. A poderosa e altiva cidadela que guarda a bela Helena continua intacta.
Dia após dia, gregos e troianos enfrentam-se em rudes combates, nos quais os melhores aqueus acabam morrendo sem ao menos conseguir se aproximar das muralhas da cidade de Príamo. Ninguém duvida dos motivos desse fracasso permanente. Se não chegam a tomar Tróia, é porque os impede um dos filhos de Príamo, o temível Heitor que tem força sobre-humana e coragem indomável. Apenas Aquiles seria capaz de derrotar Heitor.
No entanto, o semideus de longos cabelos permanece em sua tenda desde a chegada a Tróia. Recusa-se a combater porque Agamenon roubou-lhe Criseida, a escrava que Aquiles ama. Indiferente às derrotas dos gregos, ele não moverá uma palha antes de essa injustiça ser reparada.
Todas as noites, o céu ilumina-se com as luzes das fogueiras em que os gregos queimam seus mortos. Nas hostes troianas, reina tranqüila segurança.
Cansado de assistir a esse desastre, Pátroclo, o maior amigo de Aquiles, vem visitá-lo ao cair da noite. – Aquiles , eu não agüento mais... – diz ele. – Não suporto ver nossos amigos sofrer e morrer em vão. Se você não quer mesmo enfrentar os troianos, então me empreste sua armadura e seu carro de combate. Heitor vai achar que sou você e ficar com medo. Assim, eu salvo muitas vidas gregas.
Aquiles hesita, mas, por causa das súplicas de Pátroclo, acaba cedendo.
Ao amanhecer, os gregos preparam-se para o combate, em meio do barulho das armas que estão sendo lustradas e dos carros aos quais se atrelam os animais. De repente, um silêncio cai sobre todo o acampamento: pela primeira vez desde o começo da guerra, os bem armados guerreiros mirmídones chegam como reforço, precedidos por Pátroclo, que todos tomam por Aquiles. Em toda a parte, ouve-se um grito de alegria.
Recuperando o entusiasmo e a coragem, os gregos lançam-se ao assalto de Tróia. Firmes em seus postos diante das muralhas da cidade os troianos estão certos de que, como todos os dias; vencerão os invasores e conservarão entre si a deslumbrante Helena.
Mas essa confiança dura pouco. Entre os inimigos já conhecidos, vislumbram um que não esperavam: Aquiles! Um arrepio de terror percorre as fileiras troianas. Por um instante, o próprio Heitor tem medo. Mas recompõe-se rapidamente e, para animar as tropas, enfia-se antes de todos no meio da batalha, correndo ao carro de combate conduzido por Pátroclo.
Os troianos seguem seu chefe. Em meio de rangidos das rodas relinchos dos cavalos, o combate é terrível. As armas não resistem aos
choques e quebram. Nessa peleja confusa, o glorioso Heitor acredita estar enfrentando Aquiles e reúne todas as forças. Pátroclo, digno do amigo, está a sua altura. O troiano e o grego enfrentam-se como dois leões selvagens de igual bravura. No entanto, o deus Apolo, que protege Heitor, chega invisível ao local do combate. Dá uma rasteira em Pátroclo, fazendo-o perder o equilíbrio. Aproveitando o momento de fraqueza do adversário, Heitor mata-o.
Os troianos gritam de alegria, pois estão certos de que ficaram livres do terrível Aquiles. Mas, quando Heitor tira o capacete do guerreiro, descobrem sua verdadeira identidade. Agora sabem que Aquiles ainda está vivo e, para vingar o amigo morto, não recuará diante de nada. A alegria dá lugar à angústia.
Enquanto isso, os gregos levam a Aquiles a triste notícia e entregam-lhe o corpo de Pátroclo, que conseguiram recuperar, deixando com Heitor as armas do herói. Transtornado, Aquiles veste-se e dá um grito de dor tão forte que os troianos, aterrorizados, correm a refugiar-se na cidade.
Aquiles passa a ter um único objetivo: vingar Pátroclo e matar Heitor. Sua mãe, Tétis, dá-lhe armas novas e brilhantes, forjadas por Hefesto. Aquiles nem espera que os outros aqueus preparem-se. Pega suas novas armas e sai em disparada sobre o exército troiano, ferindo de morte todos os que encontra em seu caminho.
O pânico toma conta dos troianos. Até os guerreiros mais corajosos jogam fora as armas e fogem. No meio da debandada geral, só Heitor fica impassível. Compreende que, dessa vez, a sorte de Tróia está em jogo. Nem se move quando Aquiles, enlouquecido por uma fúria assassina, joga-se sobre ele. Mas Apolo, voando em socorro de Heitor, envolve-o numa nuvem e leva-o para longe do grego invencível.
Assombrado, Aquiles procura o inimigo. Finalmente o vê e, saltando do carro, lança-se contra ele. No olhar feroz de Aquiles, Heitor lê a morte próxima. Agora aflito, começa a correr em volta da cidade. Passa diante de uma das portas de Tróia, onde o espera seu irmão Deífobo, que em tom severo lhe diz:
– Não tem vergonha, Heitor? Seja homem! Você é a única esperança de Tróia! Vá lutar!
Heitor pára, confuso. Vira-se para enfrentar Aquiles.
Nem desconfia de que, sob a aparência de Deífobo, quem falou foi Atena a deusa amiga dos gregos.
O terrível Aquiles avança. Heitor nem tem tempo para esboçar um gesto de defesa. Com um só golpe, Aquiles mata-o.
Chefiados por Aquiles, os gregos infligem sangrentas derrotas aos troianos. Aquiles parece invencível. É como se nem as flechas nem as espadas fossem capazes de atingi-lo.
No entanto, o herói tem uma fraqueza secreta, e Apolo a revela a Páris. Quando Aquiles ainda era bebê, sua mãe mergulhou-o nas águas do Estige, um rio do inferno. Esse banho tornou-o invulnerável em todas as partes do corpo, menos no calcanhar por onde Tétis o segurou. Sabendo desse segredo, Páris estica o arco e, com a mão guiada por Apolo, faz pontaria no calcanhar do herói aqueu. Atingido por uma flecha envenenada, Aquiles cai e morre. Assim, os gregos perdem sua melhor oportunidade de tomar Tróia.

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